Distribuir palavras talvez possa ser fraqueza e deixa à mostra do inimigo alguma insensatez. Melhor não dizer. Melhor calar-se e mostrar-se sorrateiramente. Deixa assim, o dito pelo não-dito. E ficamos bem.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Incompleto

Ah, solidão silenciosa, como me roubas meu pesar... Quando estás gritante, alarmas meu cansaço, desatas meus nós, e minha garganta sossega. Mas quanta inquietude nesse silêncio, exaspero-me em morbidez, e me desfaleço. Corrói a traça minhas forças e minha alma. Que alma? Que ser? Já não existem possíveis, apenas indecidíveis, náuseas sufocantes. E um tropeço, em vacilos. Pedras amorosas, amigas, aromatizantes. Sempre sedutoras, me levando ao fundo do mar, para avistar seres fantásticos, mas distantes, que me provam o que é a realidade. Voltar em si, quase em des-armonia faz-me criança, porém maior e superior a tudo que possa presenciar pequenez. A efemeridade está também na grandeza e se faz forte na dor, mas se eleva em grandeza quando em face da cruel e derradeira beleza. Miúdos entre-cortados, incompletos e infinitos. Extensão sem sentido, sobretudo fugaz.

Maysa Sales

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Breve o Dia

Breve o dia, breve o ano, breve tudo.
Não tarda nada sermos.
Isto, pensado, me de a mente absorve
Todos mais pensamentos.
O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,
Que, inda que mágoa, é vida.

Fernando Pessoa