Distribuir palavras talvez possa ser fraqueza e deixa à mostra do inimigo alguma insensatez. Melhor não dizer. Melhor calar-se e mostrar-se sorrateiramente. Deixa assim, o dito pelo não-dito. E ficamos bem.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Avulso

Meu equilíbrio é tão desequilibrado.

E meu respirar parece cada vez mais tão banal.



E eu estou ficando cada vez mais parecida com você, que é tão diferente de mim.



Maysa



“I enjoy almost everything. Yet I have some restless searcher in me. Why is there not a discovery in life? Something one can lay hands on and say ‘This is it’?”

Virginia Woolf




domingo, 12 de agosto de 2012

Meu it

E os dias têm sido de rastros, suplementos, presenças-ausentes, enxertos, alegorias, metamorfoses, negações, instantes. Resumidamente, tem sido a aurora do it e do instante-já.

"O horrível dever é o de ir até o fim. E sem contar com ninguém. Viver-se a si mesma. E para sofrer menos embotar-me um pouco. Porque não posso mais carregar as dores do mundo. Que fazer quando sinto totalmente o que outras pessoas são e sentem? Vivo-as mas não tenho mais força. Não quero contar nem a mim mesma certas coisas. Seria trair o é-se. Sinto que sei de umas verdades. Que já pressinto. Mas verdades não têm palavras. Verdades ou verdade? Não vou falar no Deus. Ele é segredo meu.
(...)
Hoje é domingo de manhã. Neste domingo de sol e de Júpiter estou sozinha em casa. Dobrei-me de repente em dois e para a frente como em profunda dor de parto - e vi que a menina em mim omrria. Nunca esquecerei este domingo sangrento. Para cicatrizar levará tempo. E eis-me aqui dura e silenciosa e heroica. Sem menina dentro d mim. Todas as vidas são heroicas.
(...)
O que estraga a felicidade é o medo"

C.L. in Água Viva

sábado, 11 de agosto de 2012

Instranho, liberdade

Estranho é encontrar-se, descobrir-se. Há muitas e muitas ideologias acerca da necessidade (?) de se saber quem somos, o que fazemos no mundo, o que queremos não só dele, mas, principalmente de nós. E é fantástico o momento mesmo da revelação. Diria que é uma espécie mesmo de epifania. É como encontrar pérolas em meio à névoa. É como voltar a pular no parque. É como ser feliz sendo quem se é. Sempre soube de minha liberdade, sempre soube que sou assim, livre. Foi extremamente fantástico, sim, foi fantástico, descobrir-me passarinho. Passarinho estudando, trabalhando, sendo filha, sendo irmã, sendo mulher. Minhas asas são o equilíbrio da minha alma, do meu mais íntimo eu. O que sou e o que faço são para alcançar, viver, desfrutar, degustar, deglutir minha liberdade. Minha liberdade é o que sou, o que tenho. É o meu estranho particular. É minha vidraça quebrada, meu teto de vidro. Cortar minhas asas é latrocínio. Morte súbita. Asfixia. Compro e roubo minha liberdade, deliquentemente e distraidamente. Isso sou eu. E roubar-me de mim é o maior crime que se pode fazer.

"Estou livre? Tem qualquer coisa que ainda me prende. Ou prendo-me a ela? Também é assim: não estou toda solta por estar em união com tudo. Aliás uma pessoa é tudo. Não é pesado de se carregar porque simplesmente não se carrega: é-se o tudo". (C.L in Água Viva)

Maysa Sales