Distribuir palavras talvez possa ser fraqueza e deixa à mostra do inimigo alguma insensatez. Melhor não dizer. Melhor calar-se e mostrar-se sorrateiramente. Deixa assim, o dito pelo não-dito. E ficamos bem.

sábado, 30 de junho de 2012

Fronteira

Beleza do amor.
Querer ser a pureza do amor.
Não quero, tu queres, então rejeitamos
O inaudito, o singelo e o querer
Para além do que se foi
para onde não se vai.
Ali, onde não chove
Ali, onde se retrai
O ontem e a fronteira.
No abismo além
Onde não se foi
Aonde não irei.

Maysa Sales

domingo, 24 de junho de 2012

Uns dizem que a vida é um ciclo, outros que é uma grande máquina. Mas talvez o problema da vida não está em tentar/querer defini-la, o problema está em outro patamar. Está nos dias de angústia, na pressa cotidiana, na luta pela sobre-vivência, no desamparo, no desconsolo. Olhar para trás, para o hoje e o amanhã e perceber que somos consumidos sempre pelos mesmos dilemas e pelas mesmas felicidades também, contrariamente. Difícil é encarar seus próprios medos e receios, que por ora só atormentam e impedem as tantas tomadas de decisão. Porque são muitos caminhos, e nenhuma saída. Pior ainda é ver seus sonhos passarem por você, ou dando adeus ou um sofrível até breve (sem data nem local). Maysa Sales

quarta-feira, 20 de junho de 2012

"Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar. Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar. Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência, pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência". Martha Medeiros

quinta-feira, 14 de junho de 2012

‎' Acho que te devo um pedido de desculpas. É que nem eu mesmo gosto muito de mim, e fico meio assustado quando alguém me diz que consegue isso. É que você parecia minha amiga, só minha amiga. Você fala como uma amiga. Me cumprimenta como amiga. Me telefona e me convida para cinemas como uma amiga. Seu riso é de amiga. O seu abraço é de amiga. Mas eu devia ter desconfiado, seus cabelos sempre tiveram cheiro de namorada. Existe algo errado numa amizade quando o resto do mundo parece chato e nós os únicos legais... ' Trecho de Atos Falhos - Gabito Nunes

quarta-feira, 13 de junho de 2012

"E há momentos também em que alguém diante de você se distingue de sua magnificência, de forma clara e silenciosa. São festas raras, nunca esquecidas por você. A partir daí você ama essa pessoa. Quer dizer: você se esforça por desenhar os contornos de sua personalidade (como você a reconheceu naquele momento) com as suas ternas mãos" Rainer Maria Rilke in A melodia das coisas

terça-feira, 12 de junho de 2012

Saudade

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando. Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer. Martha Medeiros

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Relacionamentos

Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa: - 'Ah,terminei o namoro... - 'Nossa,quanto tempo?' ... - 'Cinco anos... Mas não deu certo...acabou' - É não deu...? Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida é que você pode ter vários amores. Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam. Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro? E não temos esta coisa completa. Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama. Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel. Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador. Às vezes ela é malhada, mas não é sensível. Tudo nós não temos. Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele. Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico; que é uma delícia. E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona... Acho que o beijo é importante...e se o beijo bate... se joga... se não bate...mais um Martini, por favor... e vá dar uma volta. Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer. Não lute, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não. Existe gente que precisa da ausência para querer a presença. O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama. Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro, recessão de família? O legal é alguém que está com você por você. E vice versa. Não fique com alguém por dó também. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento. Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria compania? Gostar dói. Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração. Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo E nem sempre as coisas saem como você quer... A pior coisa é gente que tem medo de se envolver. Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível. Na vida e no amor, não temos garantias. E nem todo sexo bom é para namorar Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear. Nem todo sexo bom é para descartar. Ou se apaixonar. Ou se culpar. Enfim...quem disse que ser adulto é fácil? ARNALDO JABOUR

terça-feira, 5 de junho de 2012

De-mora

Sempre pensei que amor fosse uma espécie de felicidade clandestina. Aquela em que você, a todo instante, tenta esquecer o livro, para ter a alegria de reencontrá-lo. Em que você finge que o perdeu só pra sentir o prazer do achamento. Assim, uma volúpia entreachados, entre caminhos martirizantes; a esperança de tê-lo e um falso sorriso dizendo que ele estava em posse de outrem. Seguiu-se com fé, por ora e por adiante, crendo-se, no seu íntimo desejo, de que, sim, ele seria seu. E numa posse estonteante, na demora do por vir, fica-se também no meio-tempo. No tempo não ofuscado, nem meramente adiado, mas preci-o-so. Demorar na futura morada, do ser, do querer e do amar. E seguir, por fim, confiante, amante de si e do amor.

Maysa Sales