Distribuir palavras talvez possa ser fraqueza e deixa à mostra do inimigo alguma insensatez. Melhor não dizer. Melhor calar-se e mostrar-se sorrateiramente. Deixa assim, o dito pelo não-dito. E ficamos bem.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Via Láctea

"Saia desta vida de migalhas
Desses homens que te tratam
Como um vento que passou

Caia na realidade, fada
Olha bem na minha cara
Me confessa que gostou
Do meu papo bom
Do meu jeito são
Do meu sarro, do meu som
Dos meus toques pra você mudar

Pára de fingir que não repara
Nas verdades que eu te falo
Dê um pouco de atenção

Parta, pegue um avião, reparta
Sonhar só não dá em nada
É uma festa na prisão

Nosso tempo é bom
E nem vemos de montão
Deixa eu te levar então
Pra onde eu sei que a gente vai brilhar"


A vida é como aquele texto engasgado, no meio da garganta.
Não entra ar o que acabou de sair, nem sai o ar que acabou de entrar.
Às vezes o que precisamos na vida é engasgar-se.
Pra ver até onde ainda tem ar e pra ver onde ainda tem saliva.
Mas o medo nos bloqueia e corrompe todas as veias.
E há quem prefira não lidar com o imprevisível tão belo.

Maysa Sales

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Vivo-morto

Por que vivo morto?
Tem gente que enquanto vive morre um pouquinho a cada dia.
Tem gente que morre e vive infinitamente mais.
Naquela foto, naquela carta, naquela lembrança.
No porta-retrato vazio e tão cheio de um amanhã que não chegou.
Naquela despedida fria e morna.
Ou naquela despedida que nem aconteceu.
E que morreu sufocada.
De olhares que se calaram, de vozes que se abafaram.
Do aperto profundo daquele peito.
De anéis jogados ao vento.
De lembranças desenraízadas e desmemoriadas.
Vidas que gritam por tanto amanhã e gritos mortos de tanto passado.
Holograma. Está, mas não está. Se desfaz, se irrompe, não reverbera.
Ou reverbera. Naquele momento em que é para sempre.
Para nunca.
Enterrar é doloroso é ratificar para si que acabou. Fim da linha.
Game over. Deadline.

Maysa Sales