Distribuir palavras talvez possa ser fraqueza e deixa à mostra do inimigo alguma insensatez. Melhor não dizer. Melhor calar-se e mostrar-se sorrateiramente. Deixa assim, o dito pelo não-dito. E ficamos bem.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Vivo-morto

Por que vivo morto?
Tem gente que enquanto vive morre um pouquinho a cada dia.
Tem gente que morre e vive infinitamente mais.
Naquela foto, naquela carta, naquela lembrança.
No porta-retrato vazio e tão cheio de um amanhã que não chegou.
Naquela despedida fria e morna.
Ou naquela despedida que nem aconteceu.
E que morreu sufocada.
De olhares que se calaram, de vozes que se abafaram.
Do aperto profundo daquele peito.
De anéis jogados ao vento.
De lembranças desenraízadas e desmemoriadas.
Vidas que gritam por tanto amanhã e gritos mortos de tanto passado.
Holograma. Está, mas não está. Se desfaz, se irrompe, não reverbera.
Ou reverbera. Naquele momento em que é para sempre.
Para nunca.
Enterrar é doloroso é ratificar para si que acabou. Fim da linha.
Game over. Deadline.

Maysa Sales


2 comentários: