Distribuir palavras talvez possa ser fraqueza e deixa à mostra do inimigo alguma insensatez. Melhor não dizer. Melhor calar-se e mostrar-se sorrateiramente. Deixa assim, o dito pelo não-dito. E ficamos bem.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Suspiros & Café - rastro do porvir

De onde veio, de onde começou
Aonde ainda se vai
Aleatoriamente, foi daí que apareceu
Num curta, em brevidade.
E o nome de algo já duas vezes nomeadamente fracasso
"Tudo de nada", e um outro de que não me lembro mais.
E hoje, como num relapso, ou num descontentamento
À memória. In memoriam.
De fagulhas que se destroçaram(am)
E a luz acabou-se, a chuva mantinha-se teimosa
E um olhar por entre uma chama, ainda tão persistente.
Na espera da luz, que interrompeu o carregamento do previsível, o para sempre (im)produtível.

Maysa Sales




"Vereis que, pouco a pouco, as letras vão rolar do
próprio nome:
amor sem m.
amor sem o.
amor sem r.
amor sem a.
fica o silêncio em que vos dareis uma à outra ponto
final da chama"

Maria Gabriela Llansol

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Fica


And every time I hold you
The things Inever told you
 Seem to come easily,
 cause you're everything to me







terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Do amor contente e muito descontente

Tenho pedido a todos que descansem
De tudo o que cansa e mortifica:
O amor, a fome, o átomo, o câncer.
Tudo vem a tempo no seu tempo.
Tenho pedido às crianças mais sossego
Menos riso e muita compreensão para o brinquedo
O navio não é trem, o gato não é guizo.

Quero sentar-me e ler nesta noite calada.
A primeira vez que li Franz Kafka
Eu era uma menina. (A família chorava).
Quero sentar-me e ler mas o amigo me diz:
O mundo não comporta tanta gente infeliz.

Ah, como cansa querer ser marginal
Todos os dias.
Descansem anjos meus. Tudo vem tempo
No seu tempo. Também é bom ser simples.
É bom ter nada. Dormir sem desejar,
Não ser poeta. Ser mãe. Se não puder ser pai.
Tenho pedido a todos que descansem
De tudo o que cansa e mortifica.
Mas o homem não cansa.

Hilda Hilst

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Não sabe

Ele não sabe mais nada sobre mim. Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de ser amada. Ele não sabe quantos livros pude ler em algumas semanas. Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos. (...) Ele nem imagina quanta coisa pude planejar durante esses dias todos e como me isolei pra tentar organizar todos os meus projetos. Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa. Que tenho sentido mais sono e, ainda assim, dormido pouco. Que tenho escrito mais no meu caderno de sonhos. Que aqui faz tanto frio, ele não sabe por mim. Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre. (...) Hoje foi um dia em que percebi quanta coisa em mim mudou e ele não sabe sobre nada disso. Ele não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de me sentir sozinha. Ele não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: ele nem imagina que foi ele quem me ensinou esta alegria.

Marla de Queiroz

Xícara de café

Minha xícara de café preferida é você.
Você que não é branca, pra não tirar a cor do café. Nem preta para não se misturar a ele. Mas na cor certa, que é para não tirar o foco.
Você também é meu café. Porém insolúvel. E até te trocaria pelo cappuccino. Esse que é a mistura perfeita e que adoça meu paladar. Esse que não tira meu sono, mas me faz adormecer. E sonhar, me ajudando a ser leve, mesmo me impapulsando.
Você é meu café, por me tirar o sono, e precisar sempre da minha dose certa de açúcar. Sou seu açúcar. E você sem mim é apenas cafeína destilada.

Maysa Sales