Distribuir palavras talvez possa ser fraqueza e deixa à mostra do inimigo alguma insensatez. Melhor não dizer. Melhor calar-se e mostrar-se sorrateiramente. Deixa assim, o dito pelo não-dito. E ficamos bem.

domingo, 28 de agosto de 2011

Quase ritmo

Andei procurando a música da vida, da minha, da vida, de tudo, enfim. E minha frustração foi perceber que todos os outros sentidos se aguçavam e me pegavam. Senti cheiros, conhecidos e muitos outros ausentes. Pude sentir a brisa do mar, me convidando a experimentar o infinito e aquilo que não posso alcançar. Chorei, tive vontade de retroceder, pois não consigo ir além, muito além é sufocante. E desisti. Senti outro aroma, aquele de quanto te conheci, cheiro de medo, de dúvida, nenhuma paz. Apenas algo me impulsionando a ir de encontro a mim e aos meus sonhos. Fui e não consegui voltar. E o cheiro da solidão, o mais apurado, célebre, não me fez nada. Não chorei, não sorri, paralisei-me apenas. Ela sempre está ali, perto... E às vezes dou passagem, outras, já a escondo para que não fuja, nunca se sabe quando precisarei dela. E o cheiro de quando me inebrio de alegrias e risadas inconsequentes, rodopiantes. Giro também, no compasso de qualquer música, para tontear-me e perder a lucidez, até cair, como criança, e pensar 'tola'. E sinto, enfim, o cheiro de tudo que me pertence, de tudo que sou. E sinto novamente que não conseguirei, que, de tão embriagada, cairei e não lembrarei nem mesmo quem sou. Não faz diferença, eu nunca soube de nenhuma dessas verdades, e descobri-las faria-me desfalecer.

Maysa Sales

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Branco

Quando e como? Talvez, impreciso.
Não sei ao certo o quê nem para quê.
Olhar para a vida é aceitá-la. Aceitar-me.
Os erros, defeitos e erros. Sempre tão ferozes e sempre a devorar-me,
como criança indefesa e como adulta que ainda não me tornei.
Tento contemplar o belo e invisível
para, quem sabe, achar ali o outro lado da minha vida.
Rumos incertos, tropeços conscientes. E obstáculos, calcados e cuidadosamente decorados por mim. Auto-flagelação é a arma do negócio, que ironia.
E nada me vem para continuar. Nem letras, nem frases soltas, nem meus tropeços.
Talvez seja a hora de acabar.

Maysa Sales

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Um sopro, ou um vulcão

E está assim...
O vento parado, sem curva, atônito
Queria ele voltar a ser forte e até fazer barulho.
Mas isso é em vão. E já passou do tempo de ser eficaz. Não há razões claras, nem mesmo óbvias, para ser sagaz. Invencível. Impalpável.
Só ele sabe o que é correr de si mesmo... E alcançar-se. Mesmo em paradoxo.
Uma solidão conjunta e em harmonia. Sem necessidade de exteriores, até porque não havia nada além dele, sobre ele.
Decidiu assim... interromper seus conflitos, que já não tinham propósitos. Eram vazios, como o vento. E já estavam até sem cheiro e sem cor.
Tentou, quis voltar atrás, não queria se arrepender. Tentou buscar aquela força de outrora, reconquistá-la.
E por desventura do destino, percebeu, em infortúnio, que não se pode conquistar o que já é seu, e não se pode conquistar aquilo que jamais lhe pertencera.
E, ao defrontar-se com essa triste realidade, percebeu-se fraco e insolúvel. Vivera uma ilusão. Nunca fora forte, mas apenas um alguém que acreditava em uma fantasia. Cinzenta, nebulosa.

E, de repente, um vulcão se forma...
A tudo destruiu, não com a força que jamais lhe pertencera, mas com a força que, finalmente, conquistara.

Maysa Sales