Distribuir palavras talvez possa ser fraqueza e deixa à mostra do inimigo alguma insensatez. Melhor não dizer. Melhor calar-se e mostrar-se sorrateiramente. Deixa assim, o dito pelo não-dito. E ficamos bem.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Licencio-me

É... Hoje é um grande dia.
Um dia há muito esperado, há muito sonhado e comprado: a suor, a lágrimas, a cansaço, a noites sem dormir, a muitas risadas, a amigos diferentes e inusitados, a encontros e desencontros, a professores fantásticos e a outros nem tanto assim. Viver esse hoje me remete apenas ao meu passado. Àquela criança assustada e tremendo com muito medo do primeiro dia na escola. Mas também àquela criança que se engrandecia a cada nova letra descoberta, a cada sílaba formada e às primeiras leituras. Lembro-me muito da minha primeira melhor amiga, a Larissa, que hoje fará de tudo para compartilhar esse momento comigo. Lembro-me tanto e tanto da minha avó e do meu avô, companheiros de sempre, guerreiros de sempre. De cada conselho, de cada palmada, de cada carícia e de cada canção. Dos poemas que meu avô improvisava pra mim... e depois os cantava. Sim, eu era sua musa inspiradora. Lembro-me dele muito tonto e sonolento esperando minha volta da faculdade na parada à noite. Lembro-me de tanta coisa e as palavras me escapam. Lembro-me muitíssimo do meu pai, que acabou indo embora cedo demais... E que saudade! E que vontade de ter essa figura paterna ao meu lado, todos os dias. E me lembro também de pessoas que hoje não estarão ao meu lado, por motivos que a pena e a galhofa teimam em não descrever.
Confesso que meu coração está a todo vapor e estou com os sentidos à flor da pele. Já chorei, já sorri, já me estasiei. E me vejo assim, naquela fortaleza que me fez chegar até aqui, mas que se desmorona, como num 11 de setembro, mas que também se ergue como um 28 de novembro. Eis-me de pé, prestes a receber um troféu. Nem de ouro, nem de prata, mas que reflete como diamante aquilo que sou e aquilo que mais desejo em minha vida. Um passo foi dado e outros virão, como numa ciranda desprendida. Avante, menina. A mulher que há em você hoje te chama e te conclama LICENCIADA.

domingo, 25 de novembro de 2012

Entre

Decepção é uma palavra estéril para mim, até que me aconteça...

Depois que aprendi a ser água, a chorar como a chuva só pelo profundo respeito que tenho por mim até me desvencilhar da angústia, aprendi outras coisas e recebi benefícios que vêm junto. Sei que muitas histórias desagradáveis se repetem: não acredito que seja porque o mundo “esteja perdido”, mas porque EU, dentro de tantas outras possibilidades, devo estar condicionada a viver a mesma história: primeiro passo que preciso dar adiante. Depois, seja lá o que o Outro tenha feito, ele o fez porque ME permiti que o fizesse, ou ainda, se é algo de sua índole, a minha sensibilidade falhou quando atraiu esta figura. Ou: por que percebi e aceitei que viesse para a minha vida? Que fantasmas meus esse Outro alimenta? Outro passo adiante. E assim, vou compondo caminhos mais ensolarados.

O mais bonito e mais profundo é quando você consegue se colocar passivamente, sinceramente no lugar do Outro, esquecendo suas dores e seu orgulho por um momento pra tentar entender que ele simplesmente pode estar condicionado às dificuldades, ao desamparo, ao desculpar-se, a não ser amado. Que ele deu exatamente o que tinha pra dar, que fez a única coisa que sabia fazer e que, ainda, deva sofrer mais do que qualquer pessoa que ele fira, porque não consegue amparar essa criança interna assustada que faz essa bagunça externa só pra chamar a atenção.

Eu detesto justificar os erros de alguém, até porque isto seria uma forma de me sentir superior quando julgo saber o que o Outro sentiu ou pensou quando agiu. É como se eu fosse tão sábia, que se o mundo inteiro falhasse eu teria as respostas...

Eu comecei o texto falando de uma decepção e continuei escrevendo num fôlego só, agora que ia concluir, descobri que quero mesmo é falar do amor:

Sabe quando você conhece o amor a si próprio? Quando sabe que não importa o que lhe façam porque você governa, escolhe, conduz a sua vida? Sabe quando você sabe que uma pessoa se sente bem ao seu lado só porque você sorri sinceramente? Quando você atrai muita gente saudável, dessas que sabem que merecem ser felizes integralmente e se trabalham, se melhoram a cada dia e que não economizam entregas? E que quando estão próximas, trazem à tona o que você tem de mais interessante? Eu sei tanto que imagino que alguém que decepcione voluntária ou involuntariamente por vaidade ou por maldade, certamente o fez por uma condição penosa: de não o saber.

O que dói mesmo nessas circunstâncias não é só o que foi causado: é perceber que a pessoa está vivendo uma escolha que ela fez, que ela está mais disposta a lamentar e a se vingar do mundo a simplesmente perceber a dor profunda que está guardada embaixo de tanta raiva. Que não podemos amaldiçoar a chuva, o vento, o sol: tudo vem ao seu tempo e com seu mais exato por quê. E que talvez não nos alimente naquela nossa expectativa, mas que, em algum lugar, alguém vai beber daquela água, daquela luz, daquilo que pode parecer um grande estrago pra gente, mas que é necessária para beneficiar alguém, algo. Tudo intercalado, oscilando, essencial e UNO...

Eu ia falar de uma decepção, mas ela se dissipou aqui, agora.
Conheço melhor o AMOR!

Marla de Queiroz

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A Clara Rilke, 17 de dezembro de 1906

"... Comigo acontece assim: estou verdadeiramente, apaixonadamente pronto a não desperdiçar nenhuma dessas vozes que devem chegar. Quero ouvir cada uma delas, quero retirar meu coração do peito e segurá-lo no meio das palavras de disputa e repreensão, de forma que ele não seja tocado por elas apenas de um lado, de longe. Mas ao mesmo tempo não quero desistir de meu posto ousado, tantas vezes irresponsável, e trocá-lo resignado, antes que a última voz, a mais extrema, definitiva, tenha falado comigo; pois somente nesse ponto sou acessível e aberto a todas elas, somente nesse ponto encontra-me tudo aquilo que em termos de destino, clamor ou poder quer me encontrar, somente a partir daqui poderei um dia obedecer, obedecer tão incondicionalmente como agora incondicionalmente resisto. Através de toda penetração prematura naquilo que como 'dever' quer me dominar e me fazer útil, eu bem que excluiria algumas inseguranças e a aparência daquele constante querer-escapar de minha vida, mas sinto que com isso também os grandes e maravilhosos gestos de ajuda que intervém em mim, uma sequência quase rítmica, seriam excluídos de uma ordem previsível, conduzida com energia e consciência do dever, à qual eles não mais pertencem."

Rainer Maria Rilke

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

"Ontem pensei sobre mim.
É estranho que antes de dormir pensemos no gato, no cachorro, no papagaio, nas pessoas que nos fazem sentir tão bem e ao mesmo tempo tão mal mas não em nós mesmos.
Fazemos planos.
Mas quando os colocamos em prática? Quero dizer, eu penso tanto no que gostaria de fazer e de ter feito e continuo a pensar, não me movo, não faço meus planos ganharem vida.
Quis ser diferente.
E levantei da cama sendo igual, andando com as mesmas pessoas, vestindo as mesmas roupas, caminhando no mesmo ritmo, falando dos mesmos assuntos e pensando que preciso fazer muitas mudanças na minha vida. Alguma vez fiz? Adivinhe a resposta.
Temos fome.
Nos afundamos em livros, em revistas, em redes sociais, em nossos quartos desarrumados, assim como nós e não entendemos que necessidade é esta de nos inundarmos de uma coisa só, de excessos. Para dizer a verdade, gosto de excessos, gosto de sentir tudo transbordando. É melhor sobrar do que faltar, como diz minha mãe e um bando de gente inteligente por aí.
Choramos.
Eu não queria chorar tanto. Sinto minhas defesas se desfazendo e tudo em mim cedendo, fugindo do meu controle. Mas por outro lado, pesos que não são meus vão embora, mesmo que outros venham e me carreguem novamente.
Dizemos sem dizer.
Nossos olhos. Ah, nossos olhos, eles dizem tantas coisas, não?
Vamos pensar um pouco mais em nós mesmos, sem esquecer dos outros, é claro. Vamos nos desafogar e respirar um pouco, colocar os planos em prática, mudar de verdade, erguer a cabeça e correr atrás do que realmente queremos. Deixe a boca dizer também, e escute o que deixam escondido entre os dentes".

sábado, 10 de novembro de 2012

Tardio

Ando procurando tantas respostas.
E vivo à beira. De tudo que já se foi e de que ainda será.
A vida é mesmo tão estranha. Um dia você ama, ardentemente, sem medo, sem preocupações. No outro, já não se sabe. É como se o amor fosse infinitamente maior que tudo que se é. O amor é mesmo tão egoísta! E tão intolerante! Não tolera que nos encontremos, o caminho mesmo do amor é a perdição.
Perdem-se segundos inteiros a lembrar dos momentos bons. Perde-se uma vida inteira a esquecê-lo. Perde-se tempo com brigas desnecessárias. Perdem-se tristezas estando feliz com quem se ama. Perde-se quando acaba, e, quando acaba, será que acaba mesmo?
Onde fica dentro da gente a caixinha dos amores passados? Na cabeça ou no coração?
Será mesmo que se transforma em nada, ou é tão tudo que se transforma em um outro tipo de tudo?
Para onde mesmo você levou meu amor? Onde mesmo estão todas aquelas promessas? Dentro de um saco de pipocas, ou dentro daquela caixinha de anel?
Por que mesmo você se foi? E por que mesmo que eu ainda não fui?

Maysa Sales

Marcelo Camelo - Acostumar




Posso até me acostumar
E deixar você fugir
Posso até me acostumar
Da gente se divertir
Dava tudo por amor
Eu vim de longe
Dava pra sentir
Você dançando só pra mim
Parece brincadeira
Mas eu sei que a gente faz
Um monte de besteira
Por saber que é bom demais
Posso até me acostumar
E deixar você fugir
Posso até me acostumar
Da gente se divertir
Eu vim mas trouxe o sol
E a tempestade lá de longe
Dava pra sentir você passando devagar
Pareceria tarde
Mas você foi me chamar
Morena da cidade
Eu posso até me acostumar
Posso até me acostumar
E deixar você fugir
Posso até me acostumar
Da gente se divertir

sábado, 3 de novembro de 2012

A vida me chama

‎"Me dei mal, meu bem, ninguém escapa. Mas o bom disso tudo é que agora consigo abrir meu coração sem rodeios. Sim, amei sem limites. Dei meu coração de bandeja. Sonhei com casinhas, jardins e filhos lindos correndo atrás de mim. Mas tudo está bem agora, eu digo: agora. Houve uma mudança de planos e eu me sinto incrivelmente leve e feliz. Descobri tantas coisas. Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor. Que viver um amor. Tantos amigos. Tantos lugares. Tantas frases e livros e sentidos. Tantas pessoas novas. Indo. Vindo. Tenho só um mundo pela frente. E olhe pra ele. Olhe o mundo! É tão pequeno diante de tudo o que sinto. Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa. Não dá mais para ocupar o mesmo espaço. Meu tempo não se mede em relógios. E a vida lá fora, me chama."

Caio